Marcadores

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Entrevista Exclusiva: Gabriel Frizzera Líder Criativo de Marvel Torneio de Campeões


Dia 10 de dezembro o game Marvel Torneio de Campeões completa dois anos de lançamento oficial. O que muitos não sabem é que um brasileiro lidera o time criativo por trás do game. Recentemente ele veio ao Brasil conversar sobre o game e dar spoilers exclusivos na CCXP (Comic Con Experience), o maior evento geek da America Latina que acontece uma vez por ano em São Paulo. Anuciamos aqui no blog a vinda desse artista espetacular, Gabriel Frizzera, e quem não pôde ir ao evento terá a chance de conhecer um pouco mais sobre ele e seu processo criativo no game lendo essa entrevista exclusiva. Espero que goste e compartilhe com os amigos ;)

Bem Jogado!: Ser um dos nomes à frente do processo criativo do mais bem sucedido game do universo Marvel é algo que muitos duvidam para um brasileiro. Conta pra gente um pouco da sua trajetória até aqui. 

Gabriel Frizzera: Eu comecei como muita gente boa começa: como um fã avido de quadrinhos. Lia de tudo da Marvel, DC e quadrinhos europeus, até começar a fazer meus próprios. Publiquei fanzines com meus amigos e distribuíamos de graça em shows locais, e trocávamos com outros criadores. Comecei a trabalhar com design gráfico em publicidade, achando que poderia fazer algo criativo, mas me decepcionei, então resolvi jogar tudo pro alto e ir pra fora estudar animação.

Uma vez em Vancouver, eu comecei a me envolver com uma comunidade de gente criativa que gosta de contar histórias de forma visual, o que sempre foi mais a minha praia. Mas tudo que eu fiz, mesmo meus projetos pessoais em animação, sempre tiveram esse jeito meio "quadrinheiro" de ser. Entrei em games quando fui contratado pela EA pra ser concept artist no Need for Speed, e fiquei lá por uns anos. Aprendi muito, mas a frustração continuava porque nunca fui muito fã de game de corrida.

Quando o estúdio que eu trabalhava fechou, fiquei algum tempo fazendo free-lance pra alguns outros estúdios, até q fui convidado pra começar nosso próprio. Éramos cinco quando abrimos a Exploding Barrel Games, estúdio que eventualmente foi comprado pela Kabam pra se tornar a filial de Vancouver. Fomos oferecidos o franchise da Marvel, e o resto é história.

Gabriel Frizzera em sua mesa de trabalho na Kabam antes do lançamento do game

Bem Jogado!: A casa de Marvel Torneio de Campeões é a NYCC, mas vir na CCXP no Brasil falar do game deve ter sido especial para você, como você se sentiu? 

Gabriel Frizzera: Foi um momento bacana. Eu já sabia que no Brasil tinha muitos fãs, e tenho contato com muita gente que joga o game por aí. Eu sempre insisti com a empresa que deveríamos ter uma presença maior no Brasil, que o mercado aí tem bastante promessa. Mas as vezes é difícil convencer, se a parte financeira ainda não corresponde a outros grandes mercados. Mas pessoalmente eu sei como o brasileiro tem amor pelo universo Marvel, porque tenho minha própria experiência crescendo como leitor, e sei se dermos uma atenção especial pro Brasil vai ser bom pro crescimento do game.

Ben Morse, Cuz Parry e Gabriel Frizzera na NYCC 2016
A palestra foi bem positiva e a CCXP não deve nada a outros grandes eventos geek do mundo. Você deve ter visto como a Marvel valorizou o evento revelando coisas inéditas primeiro lá. Acredito que com o MTC não pode ser diferente, e espero poder voltar em breve.

Bem Jogado!: O modo história do game é feito de arcos narrativos, como funciona a relação dos atos e as as missões de eventos?

Gabriel Frizzera: Eu acho que a história é parte crucial do ambiente do jogo. Eu costumo dizer que é a coisa "ao mesmo tempo menos e mais importante" no nosso game, porque o jogador pode jogar o jogo inteiro sem ler nenhuma linha de diálogo, sem problema nenhum. Mas tem muita gente investida nesses personagens e suas relações, e os nosso esforços são para que exista um ambiente rico de histórias inter-relacionadas que dão a sensação de um universo vivo e sempre evoluindo. Não temos a mesma riqueza narrativa de um filme ou uma HQ (mobile games tem muito pouco espaço na memória pra isso), mas tomamos muito cuidado com os arcos para que sejam interessantes e surpreendentes, e tentamos usar todos espaços que temos para enriquecer a experiência narrativa. (veja neste link todas as "Motion Comics" e outras mídias que ajudam nesse enriquecimento de experiência narrativa)

Inicialmente o plano era ter um arco contínuo (os atos), complementados por "one-shots" sem ligação com continuidade. Mas nosso universo começou a se expandir, e mesmo os eventos mensais acabaram entrando na roda. Hoje tudo faz parte da mesma continuidade. Eu tenho liderado o esforço para que tudo faça sentido no grande esquema das coisas, da mesma forma que a Marvel faz nos quadrinhos e filmes. Isso com certeza traz novos desafios, e em breve queremos começar a recapitular o que já aconteceu (como se faz nas HQs) para que os jogadores não fiquem muito confusos. Há até uma iniciativa para que se crie um wiki só da história que viva online e que os jogadores possam consultar no futuro.

Bem Jogado!: O universo cinematográfico Marvel tem grande influência nos produtos Marvel, como isso funciona em MTC? Quais outros eventos Marvel são importantes pra criação de narrativas e personagens em MTC?

Gabriel Frizzera: Os filmes realmente são os nosso maiores eventos, e a sinergia entre os produtos é total. Nos recebemos muitas informações e referências visuais dos filmes com bastante tempo de antecedência, para que possamos ser fiéis ao filme se desejarmos. Mas não estamos presos a história, e a Marvel nos estimula a ser criativos, desde que tudo faça sentido a alma do evento. Não faria sentido se a nossa Guerra Civil se passasse na terra, por exemplo. Nos também podemos sugerir personagens que se encaixem bem no evento, mas não necessariamente estejam presentes no filme. Um bom exemplo é o Doutor Voodoo no evento do Doutor Estranho. Obviamente quanto mais sinergias tivermos com o filme, mais podemos pegar carona na promoção que a Marvel faz, mas criativamente não estamos amarrados se não fizer sentido para o nosso produto.


Bem Jogado!: Jeannine Sauvage (Guillotine) foi um personagem criado para o jogo e a HQ Contest of Champions, sei o quanto ela é especial para você, como foi esse processo de criação? Há algum outro personagem sendo desenvolvido da mesma forma ou planos para isso?

Gabriel Frizzera: Guillotine é especial para mim porque foi a primeira personagem criada para game e HQ ao mesmo tempo, e também a primeira personagem inédita que eu ajudei a criar. Foi um processo muito interessante, porque teve colaboração do escritor da revista (Al Ewing), eu, o desenhista da revista (Paco Medina), e o diretor criativo da Marvel Games (Bill Rosemann). No final conseguimos encontrar um balanço visual que funcionaria bem no game e na HQ. A partir daí, eu comecei a desenvolver partes da origem dela para o game, enquanto o Al desenvolvia outras partes da sua mitologia na HQ. A gente troca muita ideia, e nos encontramos de novo em NY em outubro pra falar sobre of futuro da Guillotine na HQ e no game.

Existem sim planos para personagens inéditos serem introduzidos regularmente no game. Depois da Guillotine, Guerreiro Civil e nossa versão do Venompool, eu sempre estou procurando o próximo evento onde podemos criar algo "nosso". 2017 terá dois personagens inéditos, um relacionado ao universo de Guillotine. Há também iniciativas do lado das HQs para usar algumas das nossas criações, mas por enquanto não posso revelar muito.

Bem Jogado!: O que você pode nos falar dos eventos de dezembro e do ato 5?

Gabriel Frizzera: Nosso evento de dezembro é nosso evento de natal, e por isso vai ser um pouco mais leve e engraçado. Acho que uma boa mudança de ritmo depois dos eventos com um tom mais sério dos X-Men, Motoqueiro Fantasma e Doutor Estranho. Howard the Duck e Hyperion vão sair em uma "road trip" na época em que o Colecionador da uma folga aos campeões, e confusões vão acontecer, como tudo q envolve aquele pato.



Ato 5 tem sido anunciado e previsto por um tempo, desde o evento "Titanomaquia". O Grão-Mestre prometeu que iria voltar para tomar o Torneio de volta do seu irmão, e a hora finalmente chegou. Só que essa guerra entre os dois anciãos promete chacoalhar as próprias estruturas do Torneio, e tudo pode vir abaixo no processo. O Torneio de Campeões pode se tornar um lugar muito diferente depois do Ato 5.



Bem Jogado!: Para finalizar, nos diga o que podemos esperar do futuro do game?

Gabriel Frizzera: O nosso time está sempre procurando maneiras de manter os nossos jogadores interessados em continuar jogando diariamente. Isso significa sempre ter mais conteúdo, novos modos de jogo, consertar bugs novos e antigos, e rebalanceamento de personagens. O MTC é um produto vivo, e é um desafio mantê-lo relevante para os veteranos e atrair sempre novos jogadores. Acho que temos feito um bom trabalho porque os números mostram que muitos dos nosso primeiros jogadores ainda jogam diariamente, e o game tem crescido continuamente mesmo depois de 2 anos. Mas há muito o que melhorar, e temos consciência disso.

Narrativamente, nós estamos nos preparando para o grande evento cinemático do Marvel: Infinity War. Quem foi na minha apresentação viu a linha do tempo que eu mostrei, delineando o futuro das histórias. Os mais perceptivos viram os pontos onde as joias do infinito estão aparecendo. Já temos duas jóias reveladas, e mais uma vai aparecer em breve. Isso é um plano de longo termo, e as sementes foram plantadas desde o evento do Homem-Formiga. Se tudo der certo, isso será nosso maior evento de todos os tempos. E depois, quem sabe? Temos planos até pelo menos 2020, mas queremos continuar enquanto os fãs ainda estiverem interessados. 10 anos? 20 anos? Quem sobreviver o ataque de Thanos verá...

Em breve mais matérias exclusivas aqui no blog. Entre no maior grupo sobre o game no Facebook e curta a minha página para ficar sempre por dentro das novidades. Boa sorte e bem jogado!

Marvel Torneio de Campões está disponível para ANDROID e IOS.